Jataí, 02/12/23
Queridos irmãos e irmãs:
1. Hoje, nossos corações se unem ainda mais ao coração da Diocese de Jataí. Juntos, com alegria e esperança, acolhemos uma grande graça que Deus concede a esta Igreja diocesana. Porque Ele ama o seu Povo, vai constituir um novo presbítero.
Peregrinos neste mundo, com os corações ao alto, unidos a todos os santos, invocamos ao Espírito Santo para que derrame seus dons e suscite tempos novos, de primavera e de rejuvenescimento à sua Igreja.
Deus é amor! Desse amor, tudo provém. É um amor generoso, gratuito, compadecido e cheio de misericórdia. A vocação, o ministério e a missão que temos, nasceu do amor de Deus.
A narrativa bíblica sobre a vocação do profeta Jeremias nos introduz ao amoroso mistério da vocação, de nossa própria vocação e, em particular, da vocação do nosso ordinando, Diác. Leandro Silva Gonçalves.
A vocação é uma resposta, fruto não primariamente do nosso esforço ou do nosso empenho pessoal; é, sobretudo, demonstração do amor misericordioso de Deus. E é também efeito da oração de tantas pessoas que rezam pelas vocações de especial consagração.
Depois do dom da vida e do dom da fé, a vocação, o chamado da vocação, é a expressão mais sublime do amor de Deus por nós.
“Antes de formar-te no ventre materno, eu te conheci; antes de saíres do seio de tua mãe, eu te consagrei e te fiz profeta das nações” (Jr 1,5).
Com o profeta Jeremias meditamos, sentimos, experimentamos e vivenciamos a presença de Deus que, desde o seio materno, nos ama e chama pelo nome, nos conhece e reconhece, nos enche e preenche com o seu amor. Ele nos chamou porque quer algo de nós! Ninguém vem a esse mundo por acaso. No caso do profeta Jeremias, Deus o chamou e o consagrou, fazendo dele profeta das nações. No nosso caso, ministros ordenados, ouvimos Jesus dizer no evangelho de hoje, que somos escolhidos dele:
“Não fostes vós que me escolhestes, pelo contrário, fui eu que vos escolhi e vos designei para ir e produzir muitos frutos” (Jo 15,16).
É por amor que Jesus escolhe o padre e o envia em missão. Em nome de Jesus, que por amor deu a sua própria vida, o padre entrega a sua vida a serviço da comunidade cristã. Em nome de Jesus ele acolhe, perdoa, une a comunidade e a motiva para viver a fé. Ele age em nome de Jesus.
2. Meu querido Leandro, hoje, com as palavras do Salmista você pergunta: “Que poderei retribuir ao Senhor Deus por tudo aquilo que ele fez em meu favor? E responde com o mesmo salmista: Oferecerei o seu sacrifício e invocarei o seu santo nome”.
3. Leandro, eis agora sua vida e missão: Você se oferece ao serviço do Senhor. Responde com amor ao chamado para o qual, desde os três anos de idade experimentou os primeiros sinais de vocação, como muito bem testemunham os seus pais Luciano e Selma Silva Gonçalves e sua avó Dona Dinacira.
E, hoje, eu, bispo Sucessor dos Apóstolos, após invocar o Espírito Santo, “que é Senhor e dá a vida”, imporei as mãos sobre você, segundo a tradição apostólica, - consagrando-o, para sempre, como dom de Deus, tal como propriedade exclusiva sua, para onde quer que você seja enviado.
Santo Agostinho interroga:
“Procura onde está o teu mérito, procura de onde procede este dom, indague qual é tua justiça: e verás que não pode encontrar outra causa que não seja a pura graça de Deus” (Sermão 185).
4. Meu irmão Leandro, é sempre necessário convencermo-nos desta benemerência divina. Procure viver sempre o ministério sacerdotal em espírito fraterno, dando atenção à vida comunitária dos sacerdotes.
Cada padre deve ter claro que, no dia de sua ordenação sacerdotal, foi chamado a ser presbítero e a fazer parte da família presbiteral. “No dia da ordenação começou a correr em suas veias, o sangue do presbitério”. Caro Leandro, convido-o a cultivar sempre mais, o sentido de pertença a este presbitério, no qual todos vocês, clero de Jataí, são responsáveis uns pelos outros. Caminhe sempre na estreita comunhão com a Igreja; acolha com amor aquilo que ela orienta na voz de seu Magistério.
Viva com intensidade o seu ministério, na plena relação de reciprocidade com todos os carismas e ministérios que Deus concede à sua Igreja.
A cada um de nós, a graça amorosa de Deus concede a liberdade e os dons. Somos eternamente responsáveis por aquilo que respondemos livremente. Por isso, a resposta vocacional precisa ser diária, até o fim da vida. A vocação é como o plantio de uma árvore: precisa sempre ser cultivada e cuidada, precisa ser adubada com terra boa, precisa receber água para não murchar ou secar, precisa ser podada para se renovar e produzir bons frutos.
Aos anciãos de Éfeso, Paulo mandou dizer: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho, sobre o qual o Espírito Santo vos colocou como guardas, para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o sangue do seu próprio Filho”. (At 20, 28).
Leandro, a semente da vocação que Deus plantou em seu coração encontrou um terreno fértil em sua família; depois, foi configurada a Cristo nos longos anos de Seminário; agora, vai produzir os bons frutos no ministério ordenado que você recebe da Igreja.
Você encontrará muitas alegrias em ser padre; mas, também haverá lágrimas e, talvez, no futuro, terá que enfrentar grandes e inéditos desafios.
Caminhando na sinodalidade - junto da Igreja, do Santo Padre, de seu bispo, de seus irmãos sacerdotes e do Povo de Deus – você assumirá com altivez, discernimento, coragem e criatividade as grandes transformações do porvir.
Nascido na era digital, esta nova época vai inseri-lo na Inteligência Artificial; talvez encontre, no futuro, uma grande crise climática e novas crises humanitárias, com fome, migrações, epidemias e guerras. Isto e muito mais poderá alcançar a sua comunidade e terá implicações em sua vida e em seu ministério. Mas, não tenha medo! Você não está sozinho. Você agirá “na pessoa de Jesus”. A promessa daquele que o chamou é que Ele vai continuar sempre consigo e conosco, até o fim dos tempos.
4. Toda a vida do padre é serviço, é doação, é entrega, é gratuidade. É uma vida alegre, porque nasce da alegria do Evangelho e porque é vivida com amor e pelo amor.
“Já não vos chamo servos; chamo-vos amigos” (Jo 15, 15). É uma declaração de amizade, feita por Jesus, na hora da sua Paixão! Jesus é nosso amigo! Ele quer ser e fazer de você, de mim, de cada um de nós, “um amigo”, um companheiro, um confidente, numa experiência discreta, inscrita e aberta no próprio coração. Jesus diz-nos, com ternura na voz:
“Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15, 15).
É este amigo, que urge descobrir e viver na proximidade, caro Leandro!
Certamente, você bem o conhece. Seu itinerário vocacional foi, sobretudo, para crescer nesta amizade! Este amigo “bate à sua porta e o chama”, quer “entrar e cear” com você (Ap 3, 20). Que para sempre seja Ele o seu maior amigo! Tenha tempo para Ele, para conhecê-lo, para ouvi-lo, no silêncio do seu quarto, em casa, ou aqui, à mesa da Eucaristia. “Quem encontrou um amigo, descobriu um tesouro” (Sir 6, 14).
5. Por isso, caro irmão, trate desta amizade na oração, “por Cristo, com Cristo e em Cristo”, como bem reza o seu lema sacerdotal.
Aí, crescendo a sua vontade, une-se à dele: a vontade dele se torna a sua vontade!
Leve esta amizade, a peito, na Eucaristia, e não seja um amigo de ocasião, sem uma hora, para Ele, num dia que é todo dele. E viva também a amizade com Cristo, na amizade com os irmãos sacerdotes.
“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos”. (Jo 15, 13)! Perante a abissal bondade da sua amizade, por nós, resta-nos rezar em surdina:
“Obrigado, Jesus, pela tua amizade! Ajuda-me a conhecer-te cada vez melhor! Ajuda-me a identificar-me com a tua vontade cada vez mais! Ajuda-me a viver a minha existência, não para mim mesmo, mas, a juntamente contigo vivê-la para os outros! Ajuda-me a tornar-me cada vez mais teu amigo!”(Bento XVI, Homilia, 29.6.2011). Amém!
Dom Washington Cruz
Arcebispo emérito de Goiânia
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